Eu
era criança quando aprendi a costurar. Já não sei definir exatamente quantos
anos eu tinha, mas a minha memória mais remota gravou a cena em que eu e minhas
3 irmãs brincávamos com botões, tesouras, linhas, retalhos de tecido
e...plissês. Sentadas embaixo da mesa da cozinha, abrigadas pelas colchas de
cetim que minha mãe costurava – a mão
(trabalhava para uma antiga confecção cidade...”as Pezzi”)
Minha
avó, que morava por perto, também
trabalhava com as colchas e tinha uma máquina de costura Minerva que aguçava a minha curiosidade por longas
horas...alimentando a minha vontade de aprender a “pedalar” naquela máquina ainda antes de aprender a pedalar na bicicleta.
Assim
que pude, inventei “coisas” para costurar...primeiro à mão, depois à máquina de pedal, depois na nova máquina
que minha mãe comprou – investimento da família. As tardes eram ocupadas com a confecção de
roupas de boneca, depois roupas de
menina, depois de adolescente e o ciclo das linhas e tecidos se renovava a cada
estação. Muitas alfinetadas, dedos furados, costuras desmanchadas, conquistas
costurísticas que me davam aquele orgulho de -“fui eu que fiz”.
Posteriormente,
foram as aulas de costura com quem já tinha uma caminhada que satisfazia essas
vontades...e aprendia não só com a técnica, mas gostava da conversa, das
entrelinhas, do cheiro dos tecidos, do jeito de cada uma que me ensinou. Fui passando pelas mãos de tantas, como já
escrevi por aqui... as da minha mãe, da minha avó, da vizinha costureira, das
outras costureiras do bairro, da amiga que também queria aprender, da tia da
fulana que dava cursos...da profe. habilidosa do curso básico do Senai... até
chegar nas mãos de tantas profissionais que admiro e tenho o maior respeito,
porque dividem com tantas o que tem de melhor.
Mas
foi o Patchwok que me fisgou. Engoli as iscas das Histórias alinhavadas e
costuradas ponto a ponto, que revelam
pessoas maravilhosas, cheias de paixão, de tempo presente, que compartilham
algo que só pode ser dito se for tecido, costurado, alinhavado, quiltado. E, com acabamento de
primeira.
O
estudo, o aprofundamento, o tempo nos ajuda a concentrar nas mãos e nas
palavras, algo que um click não compra. O valor das conversas incorporadas ao
discurso, das mãos, do olho no olho, dos
detalhes, dos sentimentos.
O
Patchwork que aprecio e que aprendi com
todas essas pessoas não é o “fastfood”. É alimento preparado com os melhores
ingredientes, acompanhado de vinho da
melhor qualidade. Precisa de tempo. De
maturação. E isso, só se adquire com investimento e com a experiência.
Acho
ótimo o mundo conhecer o Universo do Patchwork e Quilt em todas as suas
aplicações. Vida longa à todas(os)
aquelas (es) que se beneficiarem dessa linguagem maravilhosa, que une,
costura idéias e pessoas do Bem. E que
se querem bem.
Que
esse mundo desenfreado nos permita seguir acreditando nisso, apostando nas
pessoas, estudando, lendo, crescendo
e....costurando.
A
menina que costurava tanto seguiu costurando bastante, mas não tanto quanto
gostaria, pois investiu também no conhecimento acadêmico, algo que para alguns
parece chatice, mas os livros, as palavras, a vida artística, as pessoas com
quem aprendo e ensino são tão apaixonantes quanto os tecidos de florzinha...e
pessoas com os olhos brilhando enquanto costuram a si mesmos em cada retalho.
Enfim,
escrevi tudo isso! para dizer que, em tempos de maturidade, os frutos caem “NO nosso pé"(kkk) a seu tempo... e eu fico muito feliz em, nesse ano, poder
compartilhar um pouco das minhas crenças
e conhecimentos sobre arte, patchwork e quilt no Festival Brasileiro de Quilt e Patchwork de Gramado,
evento que me possibilitou tantos momentos de qualificação e aperfeiçoamento logo ali, tão pertinho... sempre trazendo tanta alegria e vontade de seguir
costurando.
Ao
longo desses anos, estudei bastante sobre tantas coisas...Arte, educação,
cultura...costuras muitas coisas descritas nesse blog, outras compondo o meu
currículo de professora, pesquisadora, costureira...artista.
Se
quiserem ouvir um pouco de tudo isso...e muito mais, comunico à todos que no
dia 11 de setembro, participarei da Mesa de Conversa no 17 Festival Brasileiro de Quilt e Patchwork
de Gramado, com as minhas Mestras Queridas (Vanessa, Sandra, Carmem, Hila,
Myriam...) sobre: “A linguagem do Patchwork e Quilt na atualidade: reflexões estéticas, aplicações e usos
na Arte, Artesanato e Design.” A intenção da conversa é ampliar as reflexões sobre o uso da Linguagem do Patchwork e Quilt nos diferentes contextos e processos criativos, destacando conceitos e reflexões necessárias para a atualização profissional e qualificação dos processos artísticos e artesanais nos diferentes contextos de sua aplicação.
Espero
vocês no Festival de Gramado!
Um
abraço,
Sinara.